sábado, 12 de dezembro de 2015

Caboclos


Existem variações no entendimento que os umbandistas têm sobre o que sejam os caboclos.
As variações são próprias do movimento umbandista, notavelmente plural, mas há consenso na Umbanda, no fato de que os Caboclos são espíritos de humanos que já viveram encarnados no plano físico e são, portanto, nossos ancestrais. É interessante notar que em alguns cultos afro-brasileiros, os caboclos são considerados “encantados” e se relacionam com os espíri­tos da natureza, recebendo nomes de animais, plantas ou outros elementos naturais. Essa percepção se aproxima das lendas indígenas que narram um tempo em que os animais falavam e viviam em comunhão com os homens, podendo um se transformar no outro.



A palavra caboclo vem do tupi kariuóka, que significa da cor de cobre; acobreado. A partir daí vem a relação com os índios brasileiros, de tez avermelhada. Assim, a palavra caboclo passou a designar aquilo que é próprio de bugre, do indígena brasileiro de cor acobreada. Posteriormente surgiu a noção de caboclo como mestiço de branco com índio, o sertanejo.
Dada essa relação dos caboclos com os indígenas – nos terreiros de Umbanda é dessa forma que se manifestam -, e aproximando esse fato ao Orixá Oxóssi, que em África é cultuado como Odé, o caçador, o Senhor das Florestas, conhecedor dos segredos das matas e dos animais que lá vivem, diz-se que os Caboclos que baixam na Umbanda são espíritos ligados a Oxóssi. Muitos entendem que somente esses são caboclos e que as entidades da vibração de Ogum, Xangô, Iemanjá e Oxalá não seriam, propriamente, caboclos. No entanto, há caboclos da praia, do mar e das ondas, das pedreiras, das cachoeiras, dos rios etc., cujos elementos se associam mais aos outros Orixás que a Oxóssi.
Outra maneira de se interpretar as entidades de Caboclo, é como espíritos que se apresentam na forma de adultos, com uma postura forte, de voz vibrante, que trazem as forças da natureza, manipulando essas energias para trabalhar nas questões de saúde, vitalidade e no corte de correntes espirituais negativas. Seu linguajar pode se assemelhar ao dos indígenas, paramen­tados ou não com cocares, arcos e flechas, machadinha e espadas.
Podemos dizer que todas as entidades de Umbanda, especialmente as Crianças, Caboclos e Pretos-Velhos, são espíritos ancestrais que estão ligados, cada um, a um Orixá. Assim, as crianças trazem a vibração dos Orixás Ibeji; os Pretos-velhos vêm sob as vibrações dos Orixás Obaluaiê e Nanã e os Caboclos podem ser de Oxóssi, Xangô, Ogum etc.
Também é preciso falar que existem os chamados cruzamentos vibratórios em que uma entidade de Ogum, por exemplo, pode trazer também as forças de outro orixá, como Ogum Yara que além das forças de Ogum, movimenta também as forças dos Orixás das águas, como Iemanjá, Oxum etc.

Vejamos alguns exemplos de Caboclos de Oxóssi: Caboclo Sete Flechas, Caboclo Folha Seca, Caboclo Pena Vermelha, Cacique das Matas, Caboclo Cobra-coral, Cabocla Jurema, Cabocla Jacyra, Caboclo Ventania, Caboclo Caçador e outros.
Na linha de Ogum temos: Ogum Beira-mar, Ogum Matinata, Ogum Sete Ondas, Ogum Megê, Ogum Sete Espadas e mais uma plêiade de espíritos que vêm sob essa vibração.
Entre os caboclos de Xangô temos muitos caboclos famo­sos, como Caboclo das Sete Pedreiras, Caboclo Vira-mundo, Caboclo Pedra Branca, Caboclo da Pedra Preta etc.
Para citar alguns da linha de Oxalá, que dificilmente baixam, temos Caboclo Ubiratan, Caboclo Girassol, Caboclo Ipojucan, Caboclo Guaracy e Caboclo Tupi. Esses caboclos, normalmente, vêm fazendo cruzamento vibratório com outros orixás, especialmente com Oxóssi.

Todas as entidades de Umbanda são importantes. Ainda que alguns se orgulhem de serem médiuns de caboclos renomados e tidos como chefes de falange, o que vemos é que quando estão no terreiro, os Caboclos tratam uns aos outros como iguais, mostrando que o que importa é o trabalho espiritual e, como em uma aldeia, tudo é feito em conjunto e com as ordens dos planos superiores. Assim diz um ponto cantado de caboclos: na sua aldeia ele é caboclo, é Rompe-mato e seu mano Arranca-toco, na sua aldeia lá na jurema, não se faz nada sem ordem suprema.
É também do linguajar de caboclo, que não cai uma folha da jurema (da mata), sem ordem de Oxalá, ou seja, que tudo na vida tem motivo e que nossas ações são registradas na lei de causa-e-efeito, ou lei do karma. Mas isso não significa ficar passivo, esperando o pior acontecer. Os Caboclos também ensinam a termos coragem e a sermos guerreiros na vida, lutando pelo que é justo e bom para todos. No que é possível, os caboclos nos ajudam a entrar na macaia (a mata que simboliza a vida), a cortar os cipós do caminho (vencer as dificuldades) e, se preciso, caçar os bichos do mato (vencer as interferências espirituais negativas). Essa postura é evidenciada em vários pontos, como esse:

Atira, atira, eu atirei, eu bamba vou atirar Bicho no mato é corredor, Oxóssi na mata é caçador.
Cadê Vira-mundo pemba (bis)
Tá no terreiro, pemba, com seus caboclos, pemba.
Veado no mato é corredor, cadê meu mano caçador
E o Caboclo Ventania que me protege noite e dia.

Para quem vivência o terreiro, que há anos luta as batalhas espirituais e já viu os caboclos vencendo as demandas dos filhos-de-fé, afastando entidades negativas, tratando doenças que a medicina muitas vezes não resolve e dando lições de simplicidade, humildade, coragem e persistência, ouvir ou mesmo lembrar esses pontos cantados, traz uma sensação de alegria que enche o coração, renova o ânimo e nos dá a certeza de que estamos no caminho certo. Melhor do que qualquer leitura sobre caboclo é vê-lo incorporado atendendo quem precisa.

Fonte: Revista Orixás, Candomblé e Umbanda – Ano I – Nº 02

Mediunidade na Umbanda


Eu volteiiiiiiiiiiii!!! Espero que dessa vez para ficar rsrsrs.

Brincadeiras a parte, vou disponibilizar para vocês algumas informações tiradas de livros que tenho em casa ( a grande maioria do Rubens Saraceni ).

Esse texto ( e alguns outros que ainda postarei ) é tirado do livro Os Arquétipos da Umbanda, Rubens Saraceni, Ed.Madras.

Boa Leitura!

(...)
A mediunidade na Umbanda está centrada em algumas faculdades mediúnicas ou paranormais que são: incorporação, comunicação, magnetização, fluidificação, transporte, intuição, vidência e audição.

Mediunidade de incorporação é aquela por meio da qual a pessoa consegue incorporar espíritos.
Mediunidade de comunicação é aquela em que os espíritos conseguem se comunicar com as pessoas por meio de médiuns específicos. A psicografia e xenoglossia* são as principais faculdades nesse tipo de mediunidade.
Mediunidade de magnetização é aquela em que médiuns dotados de magnetismo específico conseguem doar fluidos vitais com propriedades curadoras e energizadoras.
Mediunidade de fluidificação é um desdobramento da magnetização pela qual o médium possui a faculdade de fluidificar líquidos, dando-lhes propriedades energéticas, medicinais e balsâmicas.
Mediunidade de transporte é aquela em que os médiuns são dotados da faculdade de transportarem para si os encostos espirituais e as imantações negativas que incomodam as pessoas.
Mediunidade intuitiva é aquela pela qual o médium dotado dessa faculdade canaliza as orientações dos espíritos por um tipo de telepatia e orienta as pessoas.
Mediunidade de vidência é aquela pela qual o médium vê parte do plano espiritual e os espíritos.
Mediunidade de audição ou auditiva é aquela mediante a qual o médium ouve a voz dos espíritos.

(...)
Sem a mediunidade não haveria a Umbanda, que centrou seus trabalhos na incorporação de espíritos e nos trabalhos espirituais de consultas, descarregos, desobsessões, fluidificação, magnetização, etc.
Portanto, a melhor definição para a Umbanda é a de religião mediúnica.

* Xenoglossia ou mediunidade poliglota é a faculdade pela qual o médium se expressa, oral ou graficamente, por meio de idioma que não conhece na atual encarnação.
( Mais informações: http://www.mundoespirita.net/xenoglossia.html )

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Pretos Velhos


Ontem, 13 de Maio, foi o dia dos nossos amados Vovôs e Vovós!!!





Que nós possamos aprender a ter a paciência e humildade que eles sempre demonstram e que sempre estejamos abertos a ouvir seus excelentes conselhos!
Saravá!!!!


segunda-feira, 9 de março de 2015

Triste notícia


Venho através dessa mensagem deixar meu lamento pela partida de um grande mestre e escritor Pai Rubens Saraceni​.
Espero que pai Oxalá conforte a família, amigos e alunos.
Infelizmente não tive a oportunidade de conhecer pessoalmente, mas aproveito para deixar aqui meu sincero agradecimento por tudo que Mestre Rubens me ensinou através de seus livros e pelo q ainda me ensinará através dos outros livros que ainda não adquiri.
A Umbanda viu partir hj um grande representante mas seus ensinamentos serão eternizados pelos seus livros e repassados pelos seus alunos disso não tenho dúvidas.
Esteja em paz e mais uma vez: Muito Obrigado!



quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Um Poema Para Exu


Ao que anuncia a minha chegada
Ao que guarda a minha retaguarda
Ao que chega antes de mim
Ao que fiscaliza tudo o tempo todo
Ao que faz justiça começando por dentro de casa
Ao que me bate para que a rua não precise me bater
Ao que sabe cobrar o que lhe é de direito
Ao que não vive sem alegria
Ao que confunde gargalhando
Ao que corre gira em meu favor
Ao que paga para ver
Ao que fala-me usando a boca do vento
Ao que me visita em sonhos
Ao que cuida do meu nome
Ao que usa astúcia como caça
Ao que em mim encontra morada
Ao que faz, desfaz e refaz
Ao que foi, é, e sempre será

Gratidão!

Laroyé Èsù amado!

Ifadeyin Fakolade



Um "Passeio" com os Orixás


Eu fui consultar um Babalaô, em busca da felicidade. Ele me disse para ir até a encruzilhada, que lá eu encontraria o Senhor da Alegria.
Fiz minha oferenda, coloquei minha roupa branca e comecei minha jornada. Conheci Exú lá na encruzilhada, rodando com suas cabaças a balançar, e dando uma boa gargalhada. Perguntei se ele sabia onde morava a felicidade, Exú, então, me mandou seguir a estrada, que lá eu encontraria o Senhor dos Caminhos, que poderia me ajudar.
Fui seguindo a estrada, na beira da mata. E no meio dela com sua espada e escudo, apareceu Ogum. Ele me disse que eu iria encontrar o que eu estava procurando se eu seguisse pela mata fechada e procurasse por Oxóssi.
Entrei na mata, e já estava quase desistindo de achar Oxóssi, de tanto que já havia andado. E então, apareceu um Faisão na minha frente. Era, sem dúvidas, o mais belo animal que eu já havia visto. O belo animal, então, se transformou em um grande e forte negro. Era Oxóssi. Ele me mandou ir até mais fundo da floresta, procurar por Ossain. Achei Ossain, que me mandou ir procurar Obaluaye e Oyá no cemitério.
Obaluaye e Oyá me mandaram ir para as montanhas, procurar por Xangô. Chegando às montanhas, fui guiado pelo rei de Oyó até os rios, onde, segundo ele, eu encontraria outros 5 Orixás que podiam me ajudar.
Chegando às águas doces, encontrei Obá no rio, Oxum na cachoeira, Logun-Edé na beira da lagoa, Oxumarê no céu, e encontrei Yewá no Sol.
Eles me mandaram ir procurar pela maior e mais velha árvore na floresta. Lá fui eu novamente, entrar na floresta, dessa vez à procura de Iroko. Me deparei, então, com a árvore mais frondosa de todas. Iroko me mandou ir para a praia, procurar por Iemanjá. Ele me disse que, por mais cansado que
eu estivesse, minha jornada estava acabando.
Caminhei e caminhei, até chegar na beira do mar. Junto com as ondas graciosas e bravas do mar, veio Iemanjá. A bela moça me mandou ir até o pântano e procurar pela anciã que vestia roxo.
Fui até o pântano, onde Nanã veio me acolher. Ela me disse para ir até o reino de Ifé, que ficava depois dos campos brancos de Oxaguiã.
Saí do pântano, e estava passando pelos campos de Oxaguiã, quando ele surgiu em minha frente. Sua altivez e bravura me assustou, mas ele disse-me que não havia nada a temer, e que ele me guiaria até o que eu estava procurando.
Junto com Oxaguiã, fui indo até o reino de Ifé. Chegando ao portão daquele grande reino, Oxaguiã me mandou ir até os jardins mais belos do reino, que eu seria guiado por Ibeji até o castelo de Oxalufã. Fui andando pelas ruas do reino, e o que vi me deixou encantado. Pessoas vivendo com prosperidade, amor, saúde, harmonia e muita felicidade.
Chegando nos jardins do reino, dois meninos vieram me recepcionar. Antes que eu pudesse desviar, um pedaço de bolo me atingiu bem no rosto. Depois de me limpar, os meninos me conduziram até o castelo de Oxalá.
O velho senhor estava sentado em uma cadeira branca, rodeado por todos os Orixás pelos quais eu havia passado.
Eu fiquei tão irritado com eles que comecei a gritar:
- Se vocês já estão aqui, por que não me trouxeram direto para cá?
Por que me fizeram andar tanto, me cansar tanto se podiam me trazer aqui tão rápido?
Exú, de prontidão, me respondeu:
- Ora, e quem disse que sua vida seria fácil? Você acha que, só por sermos Orixás, podemos dar tudo de bandeja para ti?
- Exú soltou uma gargalhada.
- Não fale assim com ele, Bará.
- Disse a bela Oxum
- Ele é apenas um Ser Humano. Eles todos tem mania de querer que as coisas caiam do céu. Pobres homens.
Sempre querendo ser mimados por nós, que temos condições de ajudá-los.
Com a ajuda de seu Opaxoro, Oxalufã se levantou e me disse:
- Você, meu filho, andou por todo o tipo de lugar. Enfrentou o Sol com Yewá, a mata com Odé, os mortos com Obaluaye e Oyá, as altas montanhas com Xangô e a chuva com Nanã. E
tudo isso em busca da felicidade. Parabéns!
Vou lhe mostrar a felicidade que tanto almeja. Aproxime-se, por favor.
Me aproximei daquele velho e franzino senhor, vestido todo de branco. Assim que me aproximei o suficiente, Oxalufã ergueu seu cajado e disse:
- A felicidade que você tanto quer esteve contigo o tempo todo, meu filho.
- Oxalá apontou seu Opaxoro para o lado esquerdo de
meu peito e disse:
- Aqui. Sempre contigo.

Texto publicado em um grupo de Umbanda do Facebook chamado Umbanda Popular Brasileira