quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Um Poema Para Exu


Ao que anuncia a minha chegada
Ao que guarda a minha retaguarda
Ao que chega antes de mim
Ao que fiscaliza tudo o tempo todo
Ao que faz justiça começando por dentro de casa
Ao que me bate para que a rua não precise me bater
Ao que sabe cobrar o que lhe é de direito
Ao que não vive sem alegria
Ao que confunde gargalhando
Ao que corre gira em meu favor
Ao que paga para ver
Ao que fala-me usando a boca do vento
Ao que me visita em sonhos
Ao que cuida do meu nome
Ao que usa astúcia como caça
Ao que em mim encontra morada
Ao que faz, desfaz e refaz
Ao que foi, é, e sempre será

Gratidão!

Laroyé Èsù amado!

Ifadeyin Fakolade



Um "Passeio" com os Orixás


Eu fui consultar um Babalaô, em busca da felicidade. Ele me disse para ir até a encruzilhada, que lá eu encontraria o Senhor da Alegria.
Fiz minha oferenda, coloquei minha roupa branca e comecei minha jornada. Conheci Exú lá na encruzilhada, rodando com suas cabaças a balançar, e dando uma boa gargalhada. Perguntei se ele sabia onde morava a felicidade, Exú, então, me mandou seguir a estrada, que lá eu encontraria o Senhor dos Caminhos, que poderia me ajudar.
Fui seguindo a estrada, na beira da mata. E no meio dela com sua espada e escudo, apareceu Ogum. Ele me disse que eu iria encontrar o que eu estava procurando se eu seguisse pela mata fechada e procurasse por Oxóssi.
Entrei na mata, e já estava quase desistindo de achar Oxóssi, de tanto que já havia andado. E então, apareceu um Faisão na minha frente. Era, sem dúvidas, o mais belo animal que eu já havia visto. O belo animal, então, se transformou em um grande e forte negro. Era Oxóssi. Ele me mandou ir até mais fundo da floresta, procurar por Ossain. Achei Ossain, que me mandou ir procurar Obaluaye e Oyá no cemitério.
Obaluaye e Oyá me mandaram ir para as montanhas, procurar por Xangô. Chegando às montanhas, fui guiado pelo rei de Oyó até os rios, onde, segundo ele, eu encontraria outros 5 Orixás que podiam me ajudar.
Chegando às águas doces, encontrei Obá no rio, Oxum na cachoeira, Logun-Edé na beira da lagoa, Oxumarê no céu, e encontrei Yewá no Sol.
Eles me mandaram ir procurar pela maior e mais velha árvore na floresta. Lá fui eu novamente, entrar na floresta, dessa vez à procura de Iroko. Me deparei, então, com a árvore mais frondosa de todas. Iroko me mandou ir para a praia, procurar por Iemanjá. Ele me disse que, por mais cansado que
eu estivesse, minha jornada estava acabando.
Caminhei e caminhei, até chegar na beira do mar. Junto com as ondas graciosas e bravas do mar, veio Iemanjá. A bela moça me mandou ir até o pântano e procurar pela anciã que vestia roxo.
Fui até o pântano, onde Nanã veio me acolher. Ela me disse para ir até o reino de Ifé, que ficava depois dos campos brancos de Oxaguiã.
Saí do pântano, e estava passando pelos campos de Oxaguiã, quando ele surgiu em minha frente. Sua altivez e bravura me assustou, mas ele disse-me que não havia nada a temer, e que ele me guiaria até o que eu estava procurando.
Junto com Oxaguiã, fui indo até o reino de Ifé. Chegando ao portão daquele grande reino, Oxaguiã me mandou ir até os jardins mais belos do reino, que eu seria guiado por Ibeji até o castelo de Oxalufã. Fui andando pelas ruas do reino, e o que vi me deixou encantado. Pessoas vivendo com prosperidade, amor, saúde, harmonia e muita felicidade.
Chegando nos jardins do reino, dois meninos vieram me recepcionar. Antes que eu pudesse desviar, um pedaço de bolo me atingiu bem no rosto. Depois de me limpar, os meninos me conduziram até o castelo de Oxalá.
O velho senhor estava sentado em uma cadeira branca, rodeado por todos os Orixás pelos quais eu havia passado.
Eu fiquei tão irritado com eles que comecei a gritar:
- Se vocês já estão aqui, por que não me trouxeram direto para cá?
Por que me fizeram andar tanto, me cansar tanto se podiam me trazer aqui tão rápido?
Exú, de prontidão, me respondeu:
- Ora, e quem disse que sua vida seria fácil? Você acha que, só por sermos Orixás, podemos dar tudo de bandeja para ti?
- Exú soltou uma gargalhada.
- Não fale assim com ele, Bará.
- Disse a bela Oxum
- Ele é apenas um Ser Humano. Eles todos tem mania de querer que as coisas caiam do céu. Pobres homens.
Sempre querendo ser mimados por nós, que temos condições de ajudá-los.
Com a ajuda de seu Opaxoro, Oxalufã se levantou e me disse:
- Você, meu filho, andou por todo o tipo de lugar. Enfrentou o Sol com Yewá, a mata com Odé, os mortos com Obaluaye e Oyá, as altas montanhas com Xangô e a chuva com Nanã. E
tudo isso em busca da felicidade. Parabéns!
Vou lhe mostrar a felicidade que tanto almeja. Aproxime-se, por favor.
Me aproximei daquele velho e franzino senhor, vestido todo de branco. Assim que me aproximei o suficiente, Oxalufã ergueu seu cajado e disse:
- A felicidade que você tanto quer esteve contigo o tempo todo, meu filho.
- Oxalá apontou seu Opaxoro para o lado esquerdo de
meu peito e disse:
- Aqui. Sempre contigo.

Texto publicado em um grupo de Umbanda do Facebook chamado Umbanda Popular Brasileira

sábado, 17 de maio de 2014

Vamos Lutar Contra o Preconceito



Nós que amamos a Umbanda e temos muita fé em tudo o que aprendemos através dela, precisamos levantar a bandeira contra o preconceito e a intolerância religiosa.
Todas as pessoas tem direito a escolher suas próprias crenças e serem respeitadas por suas escolhas.


Segue notícia retirada do site:
http://extra.globo.com/noticias/rio/seguidores-de-religioes-afro-brasileiras-protestam-contra-decisao-de-juiz-para-teologo-magistrado-usou-conceito-estreito-12518693.html

Seguidores de religiões afro-brasileiras protestam contra decisão de juiz; para teólogo, magistrado usou ‘conceito estreito’

O despacho do juiz Eugenio Rosa de Araújo não caiu bem entre os adeptos do candomblé e da umbanda. Ao negar uma ação que pedia a retirada da web de vídeos considerados intolerantes, o magistrado alegou que “manifestações religiosas afro-brasileiras não se constituem como religião”. Foi a deixa para que baixasse a revolta nos que destinam sua fé a orixás e divindades afins. Coube ao Ministério Público Federal (MPF), ao apelar a uma instância superior, a tarefa de fugir da encruzilhada.
Na noite desta sexta-feira, mais de cem adeptos da umbanda, do candomblé e do espiritismo reuniram-se em frente à Assembleia Legislativa do Rio, no Centro da cidade, para questionar a postura do juiz. O ato foi organizado pelo Centro de Referência Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana.
— Como ele escreve e assina uma coisa dessas? Estamos indignados — disparou Mãe Juçara de Iemanjá, de 60 anos, acrescentando:
— Esse evento é em prol da liberdade religiosa. Queremos poder caminhar na rua com nossas roupas, nossos fios de ponta. Andar sem nos olharem de um jeito esquisito... Independentemente da religião, somos seres humanos.
Para justificar sua decisão, o juiz Eugenio Rosa argumentou que, para configurar-se uma religião, é preciso haver “um texto base (corão, bíblia, etc)”. Além disso, o magistrado também cita a “ausência de estrutura hierárquica e a ausência de um Deus a ser venerado” nos cultos afro-brasileiros para sustentar sua tese.
— Como não temos um deus? Temos vários deuses e deusas. Nossa religião vem de antes de Cristo. Quando ele chegou ao mundo, já havia religiões de matriz africana — explicou Mãe Juçara.
Teólogo critica
O teólogo e pastor Antônio Carlos Costa, por sua vez, também discordou do juiz. Para o fundador da ONG Rio de Paz, a visão demonstrada pelo magistrado é “muito arbitrária”:
— Para que afirmar que uma expressão de fé precisa de um livro sagrado? É um conceito estreito, excludente. Se você partir desse pressuposto, terá que considerar que o judaísmo e o cristianismo, numa parte da história, também não eram religiões. Eles não nasceram com um livro sagrado, mas sim como discursos. Além disso, não se pode institucionalizar a fé.
Embora frise que nem toda discordância religiosa pode ser tratada de antemão como preconceito, sob o risco de “chamar de intolerância eventuais diferenças de pensamento”, o pastor afirma que mais importante é “abraçar os diferentes”:
— No próprio Rio de Paz há pessoas de todos os credos, ou os que não creem nada. Mas pensamos apenas no bem comum.
Ação contra o Google
A polêmica começou com uma representação movida pela Associação Nacional de Mídia Afro. No texto, o grupo considerava o conteúdo de alguns vídeos no Youtube discriminatório contra religiões de matriz africana — um deles, por exemplo, traz o depoimento de um “ex-macumbeiro, hoje liberto pelo poder de Deus”.
No início de 2014, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, do MPF, recomendou que o Google retirasse as imagens do ar. Após negativa da empresa, a entidade recorreu à Justiça Federal, conferindo ao juiz Eugenio Rosa, da 17ª Vara Federal do Rio, a tarefa de analisar o caso.
— O indeferimento é, por si só, lamentável. O poder público está deixando de aplicar o Estatuto da Igualdade Racial e a lei que coíbe o uso abusivo dos meios de comunicação e abordagens de cunho preconceituoso. E a decisão me soa equivocada por se achar no direito de dizer o que é religião — analisou o o procurador da República Jaime Mitropoulos.
O procurador apelou, agora, ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região. No pedido, consta reportagem do EXTRA do fim de 2013 que mostrou que mães de santo vinham sendo expulsas de favelas por traficantes evangélicos. O juiz Eugenio Rosa não foi localizado para comentar sua decisão.
Colaborou: Cíntia Cruz



sábado, 5 de abril de 2014

Uma Bela Música para Vocês


Alabé de Jerusalém


São pelo menos cinco mil anos no anil céu do nosso planeta. Hoje, nos céus do Brasil, mais que em qualquer céu do mundo.

Aruanda, morada do Panteão de Benin, Daomé, de Luanda, do povo Gêge, Banto, Nagô, Kêto que une brancos e pretos em torno dos atabaques, os da alta roda, os do gueto, os sem camisa e os de fraque na celebração da vida. E assim, nos céus da nação, o Panteão permanece. Gregos, romanos tiveram os seus, mas deuses não bem cuidados, percebendo-se não tão amados, com tempo desaparecem, migram, silenciam, desligam-se dos humanos. Os que temos foram ciganos, atravessaram oceanos e, em nossos céus, forasteiros, instalaram acampamento. Hoje, do firmamento, desse lindo véu azul, céu do Cruzeiro do Sul, olham por seus terreiros, simpatizantes e herdeiros.

Não sabiam o que traziam, os tolos, os sem valia, nos porões de seus negreiros. E no Reino de Aruanda, o Panteão de Ifé unido ao da Santa Sé, inspiram uma fecundação no útero do nosso chão verde e amarelo. E, amparada pelas mãos das Nossas Senhoras, batizada com paixão pelos queridos Pretos-Velhos, vem ao mundo, com graça e delicadeza, intensa de luz, de axé, a mais nova irmã do guerreiro Candomblé, a doce e querida Umbanda.

O Alabê de Jerusalém, um filho de Daomé, que conduzido pela fé, um dia, em sua caminhada encontra com a Sagrada Luz de Jesus, o Nazareno, hoje, dois mil anos depois, que o sol nasceu e se pôs, retorna à Mãe Terra, a cortina do tempo descerra e, sob os auspícios da arte, ao som dos tambores reparte o vinho de sua trajetória, reacende a luz da memória e canta: “Meu nome é Alabê de Jerusalém, chamado por essa tão querida Irmandade, cheguei pra matar saudade.”

Altay Veloso

O amor de Altay Veloso por Jesus Cristo começa na infância quando era soldadinho de Deus da igreja que sua avó Rosalina freqüentava. Sua mãe, Izolina, sacerdotisa de cultos africanos, foi quem manteve viva a herança africana dos orixás do panteão iorubá. Forjado nessa ambiência ecumênica, Altay Veloso fundiu as duas culturas “como se fundem os matizes de uma original tintura extraída de diferentes raízes para assim tornar possível uma pintura nova, fecunda e arrojada.” Daí nasceu O Alabê de Jerusalém.

Aos 21 anos de idade, Altay Veloso compõe a primeira música da ópera: Jerusalém. Meses depois escreveu a música O louco, o Gólgota.

A intenção de escrever uma ópera veio muitos anos depois. As músicas foram escritas aleatoriamente sem nenhuma linearidade narrativa ou objetivo específico. A ópera foi composta com meses, um ano, até dois anos de interrupção. Foi quando, aos 40 anos, Veloso dedicou intensamente seu trabalho a terminar a saga do africano de Daomé, O Alabê de Jerusalém.

Ogundana é um africano nascido dois mil anos atrás na cidade de Ifé. Durante sua infância ouviu muitas histórias sobre outros povos, outras nações, contadas pelos aventureiros que passavam por sua aldeia. Assim despertava-se no menino, um inquietante amor pelo desconhecido.

Quando completa doze anos de idade, Ogundana foge de sua aldeia e segue em direção ao norte da África. Passa por várias nações, caminha durantes longos anos, até que com 22 anos chega ao Reino da Núbia e encontra um centurião romano ferido e com seu filho morto nos braços. Ogundana cura o oficial e sepulta seu filho em ritual africano. Os dois tornam-se grandes amigos e o centurião o convida a ir para Roma e ele vai.

Lá seus conhecimentos sobre os poderes medicinais das ervas, ciência herdada dos sábios de sua tribo, passa a receber soldo do exército romano para cuidar dos doentes e feridos. Quando Pôncio Pilatos é designado governador da Judéia, Ogundana já tem vinte e cinco anos de idade e vai para Cesaréia como terapeuta, na tropa de Pôncio Pilatos. Lá ele conhece o grande amor de sua vida, Judith, uma mulher da comunidade essênia.

Um dia, Judith o convida a ir a Galiléia visitar uma amiga de infância, e lá, Ogundana conhece Jesus Cristo, se encanta ao ouvir o Sermão da Montanha. Daí em diante, apaixonado pelos ensinamentos do Mestre, acompanha seus passos em Jerusalém até Seus últimos algozes no Gólgota.

Após a morte de Jesus, Ogundana desce Jerusalém e vai viver ao lado de sua esposa próximo ao Mar da Galiléia. Judith morre vinte anos depois, e Ogundana vai para o deserto da Judéia, onde vive até o fim de seus dias.Hoje, esse africano de Daomé é uma entidade espiritual chamada O Alabê de Jerusalém, que volta a Terra para contar o que presenciou há mais de 2000 anos.

Texto retirado do Blog Ouvindo as Vozes de Aruanda

Abaixo vocês podem ver um trecho dessa belíssima obra