São pelo menos cinco mil anos no anil céu do nosso planeta. Hoje, nos céus do Brasil, mais que em qualquer céu do mundo.
Aruanda, morada do Panteão de Benin, Daomé, de Luanda, do povo Gêge, Banto, Nagô, Kêto que une brancos e pretos em torno dos atabaques, os da alta roda, os do gueto, os sem camisa e os de fraque na celebração da vida. E assim, nos céus da nação, o Panteão permanece. Gregos, romanos tiveram os seus, mas deuses não bem cuidados, percebendo-se não tão amados, com tempo desaparecem, migram, silenciam, desligam-se dos humanos. Os que temos foram ciganos, atravessaram oceanos e, em nossos céus, forasteiros, instalaram acampamento. Hoje, do firmamento, desse lindo véu azul, céu do Cruzeiro do Sul, olham por seus terreiros, simpatizantes e herdeiros.
Não sabiam o que traziam, os tolos, os sem valia, nos porões de seus negreiros. E no Reino de Aruanda, o Panteão de Ifé unido ao da Santa Sé, inspiram uma fecundação no útero do nosso chão verde e amarelo. E, amparada pelas mãos das Nossas Senhoras, batizada com paixão pelos queridos Pretos-Velhos, vem ao mundo, com graça e delicadeza, intensa de luz, de axé, a mais nova irmã do guerreiro Candomblé, a doce e querida Umbanda.
O Alabê de Jerusalém, um filho de Daomé, que conduzido pela fé, um dia, em sua caminhada encontra com a Sagrada Luz de Jesus, o Nazareno, hoje, dois mil anos depois, que o sol nasceu e se pôs, retorna à Mãe Terra, a cortina do tempo descerra e, sob os auspícios da arte, ao som dos tambores reparte o vinho de sua trajetória, reacende a luz da memória e canta: “Meu nome é Alabê de Jerusalém, chamado por essa tão querida Irmandade, cheguei pra matar saudade.”
Altay Veloso
O amor de Altay Veloso por Jesus Cristo começa na infância quando era soldadinho de Deus da igreja que sua avó Rosalina freqüentava. Sua mãe, Izolina, sacerdotisa de cultos africanos, foi quem manteve viva a herança africana dos orixás do panteão iorubá. Forjado nessa ambiência ecumênica, Altay Veloso fundiu as duas culturas “como se fundem os matizes de uma original tintura extraída de diferentes raízes para assim tornar possível uma pintura nova, fecunda e arrojada.” Daí nasceu O Alabê de Jerusalém.
Aos 21 anos de idade, Altay Veloso compõe a primeira música da ópera: Jerusalém. Meses depois escreveu a música O louco, o Gólgota.
A intenção de escrever uma ópera veio muitos anos depois. As músicas foram escritas aleatoriamente sem nenhuma linearidade narrativa ou objetivo específico. A ópera foi composta com meses, um ano, até dois anos de interrupção. Foi quando, aos 40 anos, Veloso dedicou intensamente seu trabalho a terminar a saga do africano de Daomé, O Alabê de Jerusalém.
Ogundana é um africano nascido dois mil anos atrás na cidade de Ifé. Durante sua infância ouviu muitas histórias sobre outros povos, outras nações, contadas pelos aventureiros que passavam por sua aldeia. Assim despertava-se no menino, um inquietante amor pelo desconhecido.
Quando completa doze anos de idade, Ogundana foge de sua aldeia e segue em direção ao norte da África. Passa por várias nações, caminha durantes longos anos, até que com 22 anos chega ao Reino da Núbia e encontra um centurião romano ferido e com seu filho morto nos braços. Ogundana cura o oficial e sepulta seu filho em ritual africano. Os dois tornam-se grandes amigos e o centurião o convida a ir para Roma e ele vai.
Lá seus conhecimentos sobre os poderes medicinais das ervas, ciência herdada dos sábios de sua tribo, passa a receber soldo do exército romano para cuidar dos doentes e feridos. Quando Pôncio Pilatos é designado governador da Judéia, Ogundana já tem vinte e cinco anos de idade e vai para Cesaréia como terapeuta, na tropa de Pôncio Pilatos. Lá ele conhece o grande amor de sua vida, Judith, uma mulher da comunidade essênia.
Um dia, Judith o convida a ir a Galiléia visitar uma amiga de infância, e lá, Ogundana conhece Jesus Cristo, se encanta ao ouvir o Sermão da Montanha. Daí em diante, apaixonado pelos ensinamentos do Mestre, acompanha seus passos em Jerusalém até Seus últimos algozes no Gólgota.
Após a morte de Jesus, Ogundana desce Jerusalém e vai viver ao lado de sua esposa próximo ao Mar da Galiléia. Judith morre vinte anos depois, e Ogundana vai para o deserto da Judéia, onde vive até o fim de seus dias.Hoje, esse africano de Daomé é uma entidade espiritual chamada O Alabê de Jerusalém, que volta a Terra para contar o que presenciou há mais de 2000 anos.
Texto retirado do Blog Ouvindo as Vozes de Aruanda
Abaixo vocês podem ver um trecho dessa belíssima obra
Muito boa, até senti vibrações muito axé pra ti amiga!!!!
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